Por Luiz Augusto Barbosa Oelfeld
Meus avós paternos quem foram os primeiros moradores dessa casa.
Meu avô, Adan Oelfeld, nascido em Berlim, veio da Alemanha em um navio em 11 de maio de1903. Desembarcou no porto de Santos, se encantou com a cidade mas, por questão de trabalho, foi morar em São Paulo. Era empregado em uma revenda de automóveis.
Na capital paulista, Adam residia em uma pensão alemã, localizada no bairro da Barra Funda. A pensão pertencia aos pais de minha avó, Clara Martha Elza Bush. Clara, nasceu na Áustria, vindo morar no Brasil aos 18 anos. Foi onde Adan e Clara Martha se conheceram, namoraram e se casaram.
Como os tios-avôs de Clara Martha (os Bush) moravam em São Vicente, cidade onde residiam muitos europeus na época. Compraram este terreno e meu avô, por ser construtor, começou a fazer a casa em 1930 e ali foram muito felizes.
Em 1939 a construção da casa foi paralisada por causa guerra, evento que afetou a vida dos estrangeiros de etnia japonesa, alemã e italiana. Meus avós tiveram que abandonar a casa deles e foram residir em São Paulo. Nesse período a casa ficou fechada. Minha avó era musicista e seu piano desapareceu da casa durante essa ausência deles. No fim da guerra com a divisão da Alemanha e o isolamento de Berlim, a família de Adan ficou retida na parte oriental, sobre controle soviético. Esse fato provocou a perda de contato com os parentes qua ali ficam isolados pelo regime soviético. Uma outra parte da família de Martha - os Bush- também vivia em São Vicente, na praça 22 de Janeiro numa casa de fundos para o morros dos Barbosa, próxima da Biquinha.
Um dos filhos de Adam e Martha - tio Billy- era portador da Síndrome de Down, porém Martha achava que ele poderia ter uma vida normal como os irmãos e poderia, inclusive, frequentar a escola. Seus filhos estudaram no Grupão , antes denominada Escola do Povo que muitos anos mais tarde ganharia o nome da professora Zina de Castro Bicudo. Zina era amiga de minha avó e as duas compartilhavam a mesma ideia de que o tio Billy poderia frequentar normalmente as aulas, atitude de acolhimento que anos mais tarde seria definia coms "inclusão".
Uma informação histórica importante: meu avô foi quem construiu grande parte das moradias da rua João Ramalho, algumas até hoje existentes. Ele também colaborou na construção do edifício Gáudio em1940, conhecido empreendimento do empresário paulistano Victorio Morbin, projetado pelo Escritório Técnico Luiz Muzi.
Adan Oelfeld participou também da construção da primeira construção da Igreja Nossa Senhora das Graças, na década de 1950, localizada na Vila Valença, cujo padre na época era um alemão e muito amigo da família.
O padre João Beil liderou a formação da comunidade católica e a construção da Igreja N.S. das Graças, hoje nome da estação do VLT. A matéria histórica foi publicada em A Tribuna, em 1975. As quermesses promocionais tornaram-se durante muitos anos um procurado ponto de diversão durante os festejos juninos na cidade. SV na Memória. Pesquisa: Waldiney La Petina.
Dos quatro filhos de Adan e Clara Martha, o último a falecer foi meu pai. Nessa época já morávamos lá nessa casa, meus pais, eu e minhas duas irmãs. Todos nos casamos e minha mãe residiu sozinha lá até a pandemia. Depois passou a morar com minha irmã caçula, o marido e filhos. Martha faleceu com câcer e Adan por infarto. Com o falecimento deles, a madrinha do Tio Billy
Minha mãe ainda é viva, e aos seus 94 anos, sempre que pode, tem vindo até a casa, cuidar das plantas que tanto ama.
A casa quase centenária, localizada na avenida Mal. Deodoro, tem um ar de abandono devido à vegetação densa no jardim. Muitos não sabem que ali temos um verdadeiro pomar com pés de amora, carambola, goiabeira, melão selvagem, bananeira, fruta do conde, abacateiro, um pé de figo. Olhando de fora, como muito acham e ignoram o que têm dentro, dá a impressão que é apenas mato.
Nos fundos da casa, recentemente, meu primo fez uma academia. Dessa forma a residência permanece viva e na família até os dias de hoje.
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